sexta-feira, dezembro 04, 2009

Mais uma vez


Ligo a TV, mais um escândalo político ecoa nos noticiários dessa república de desonestidade quase idiossincrática. Como resultado de uma machine gun com o gatilho preso, vejo pedaços de gente por todos os lados – gente que não é da gente -, é da corja que habita o topo dessa cadeia que se projeta social, mas finda tão blue, e dizem ser sangue.

Mais um governador qualquer, e não me preocupo em guarda-lhe o nome, como não é de sua preocupação deixar sob sua égide todos os Silvas mortos em filas de hospitais, nas calçadas sob efeitos das pedras que matam e sobre ratos. O que poderia restar de sua dignidade? Então senhor, para o inferno!

É difícil nessas terras de escassos dentes, ter de olhar a boca de um cavalo dado, como naquele dito popular. ‘Dado’ é premissa que legitima o comodismo! Já que nos é imposto o amargo votar, não somos nós que recebemos, nós é que doamos - nos doamos.

Tenho pena dos que ainda acreditam na mentira de fábulas políticas que se escondem sob o nome da democracia. São falácias que gritam aos quatro cantos e povoam o imaginário popular através da pujança econômica de nosso País. O poder da economia existe sim, é claro. Mas cadê a parte que nos cabe?

Já não leio mais jornais como antigamente. É sempre o mesmo feijão com arroz sem tempero, ou salgado demais. Cadê o sabor? Que dá tato ao paladar, toca o gosto que surge como manjar na língua - o doce gozar.

Eu quero é me empanturrar de notícias fortes, de verdades azedas e comidas torpes. Quero é que me arda a boca, como pimenta, jalapeños parciais, mas honestos, dedo na cara, nas feridas...

Cansei de débeis apresentadores de TV, erguendo o punho covarde e pedindo a morte dos corsários. Piratas vítimas e algozes sociais. O gordo engomado cuspindo preconceitos, quando a noite cai, se enclausura em seu moderno apartamento.

Gosto mesmo é de ver o circo pegar fogo, e queimar todos os palhaços vestidos de terno e gravata. Mas é triste constatar que quanto mais os combatemos, mais surge quem queira entrar para o Freak Show da política. Ad Infinitum, é a sensação que nos dá – a mulher barbada que o diga, pode perguntar.

Rodrigo Barradas

sexta-feira, novembro 27, 2009

Tênue, a vida


A linha que separa a realidade de uma doce ilusão é a tênue certeza que tudo pode ruir em um único segundo, como aquele que antecede a morte ou que faz partir o mais bravo dos corações. Que cospe o engasgo da mais simples convicção, como um vômito de especulações que irradiam o maior dos desejos humanos: a recíproca do amor. Como numa canção, sem métrica, sem ritmo, apenas com berros desafinados que pedem e desatinam loucuras em nome das paixões.
E tudo vale a pena, afinal, sempre valerá.

Rodrigo Barradas

sexta-feira, outubro 09, 2009

Gestos


Caminho, só eu e a minha mente
desvairada a rua vazia amputa a gente
Pois não tenho nada e o nada já é tudo
eu liquido o saldo, que já não era muito.

E nos mares humanos, somos tantos e tão sós
O que somos então, senão girassóis?
Que apontam e rumam para o mesmo lugar
Mas gestos e aparências iguais não dizem nada.

Mais um copo de whisky e cachaça para esquecer
Num bar qualquer vejo a vida entardecer
Com meus amigos sós, cópias de mim tão só
Levo a boca o fumo, num gesto igual ao que vi na TV.

E em casa me deito à uma cama igual a tantas outras
Com lençóis que sufocam e calam-me a boca
Ao tentar recordar de um dia, em que o meu “eu” ator
Não tenha atuado a vida, como numa produção barata e mal dublada de terror.
Rodrigo Barradas

segunda-feira, agosto 17, 2009

O que se leva da vida? Senão o fato de viver.

O que vem depois, do ébrio e sombrio, da paz ou do caos de uma vida vivida sem sal ou salgada demais?
O que se deixa de uma vida de lutas e de sonhos, de puros ou profanos amores gritados ou velados demais?
Senão o fato de viver?

Rodrigo Barradas

terça-feira, julho 21, 2009

Le Beauté

Era vida boa e feliz, ria de tudo - da desgraça de ser desgraçado – impacientemente fingindo paciência, e para quê? Enganar a si próprio sempre foi seu forte, pois sonhava de olhos esbugalhados até sentado à privada. Imaginem só, sonhar feliz 'cagando' – expelindo o que há de ruim e desejando coisas boas – era assim.
Quando 'pegava' o ônibus lotado, de gente e de merda, vez ou outra sorria, ao menos quando sentava-se à janela e sentia soprar ao rosto o fedor putrefato do esgoto e mijo que brotava da cidade. Só não gostava de segurar no ferro de apóio aos passageiros, imaginando quantos germes e coliformes fecais ali se encontravam: “uma verdadeira comunidade de bosta”, pensava. Respirava fezes e tinha nojo de tocá-la.
No mais, irritava-se com besteiras como: quando atrasado, o coletivo em que viajava parava em todos os sinais, pegava todos os engarrafamentos possíveis e os passageiros desciam e subiam em todas as paradas.
Chegar atrasado ao serviço sempre fora uma tremenda besteira, essa é que é a verdade. Para quê tanto estresse? Enriquecer os bolsos e aumentar a já gorda conta do patrão? As vezes tinha vontade de mandar o consenso à merda.
Era incrível como podia ser um paradoxo vivo. Sorrir e odiar pareciam ser os combustíveis que o mantinha vivo. Nunca indiferente, até o sorrir tinha um propósito – o de fingir não ligar – mas ligava, quase sempre.
Muitas vezes fingia ortodoxia de vida, dogmatismo e vertente de ideologia. Mas gargalhava quando ouvia o cantarolar da música: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Nessas horas entendia.
Não sabia se era apenas essa vida ou se havia mais. Até imaginava, é verdade. Mas qual a única certeza da vida? Que se nasce para morrer! Só acreditava nesse destino. O resto? Horóscopos, zen-budismo, mantra, nirvana, dons e destinos traçados, sempre era visto com um certo nível de ceticismo. Até em relação ao ceticismo era cético. Tudo que emanava muita descrença, fazia desconfiar. “A verdade está lá fora” - lembra ter lido ou ouvido em algum lugar.
Mas sempre esperava o sol da vida se pôr, tendo um único papel para atuar. E isso era triste pois uma peça não pode ficar em cartaz por tanto tempo, porque se demora muito as cortinas se fecham, o público vai embora, e você morre, esquecido. Se ainda for lembrado, será apenas como o ator de uma única personagem, um triste palhaço bêbado de circo que repetiu a exaustão o mesmo número no picadeiro.
E atuar nesse número era o que mais sabia fazer – e como sabia – quase uma década de tilintar o teclado, esguio, pálido, em modernas casas de pombos; pombos-tecnocratas, sem nada a acrescentar e a oferecer ao mundo. Ratos de escritórios.
Enfim, décadas à frente morreu – sorrindo é verdade – foi-se com um sorriso nos lábios e o peito amargurado. O rancor era de frustração, por não ter se libertado de seu papel de cuco, triste relógio que nada mais soube fazer. Mas morreu sorrindo, mesmo se odiando - e riu porque sem risos, mesmo num circo décadent quanto o da sua vida, não poderia assim viver.

Rodrigo Barradas

terça-feira, março 17, 2009

Sorriso de domingo



Era tarde de domingo e apesar do tédio que se escancara nesse dia em particular, talvez mais do que em outros, tentava se enganar – tentando rir de piadas sem graça de um gordo apresentador de um programa de TV sem conteúdo.
Mesmo com o calor infernal que fazia lá fora e torrava a cuca de quem exposto estava, havia algo de cinza no ar. Aliás, certos domingos são assim, para aqueles que tentam cuspir os últimos instantes de liberdade, antes da forca de segundas-feiras trabalhistas.
Sentado em sua nova poltrona que acabara de adquirir através do dinheiro-de-plástico-internacional, voltava seus pensamentos ao passado - a trajetória sofrida da labuta escrava ao qual se submetera para chegar ao topo, enfim valera a pena, pensou irrequieto sobre o couro branco e macio.
As noites mal dormidas adicionadas de café e comprimidos fizeram com que em dados momentos quase desistisse da escalada. Era mais difícil que escalar o K-9 ou o Everest pensava naqueles momentos. Mas hoje no topo da cadeia, o predador imponente ria, ao lembrar dos que deixou para trás. Ele era o vencedor, o esperma que ganhou a corrida de girinos-humanos, o alpinista que venceu a montanha e sapateou em cima dela mostrando desrespeito. Ele era maior do que tudo ao seu redor.
Mas, por mais que tentasse, não conseguia mais enganar a si mesmo. Ainda era capaz de enganar qualquer pessoa com sua lábia de mercado. Mas a si, já não conseguia mais e esse fato acabara de vir a sua mente.
Naquele momento sentado na frente da TV, assistindo um programa que apesar das cores, dos sorrisos estampados e das atrações, não conseguia mais o atrair. Aquele homem que liderava as entrevistas e fazia questão de atrapalhar os entrevistados, acabara de se travestir em uma marionete esquisita, sem vida, inanimada.
De repente o iluminado apartamento no vigésimo quinto andar, desses que fazem os sonhos de muita gente, com quatro quartos, suítes em cada um deles, sala para dois ambientes, uma ampla varanda, cozinha e área de serviço - piso em porcelanato, as paredes decoradas por um arquiteto e paisagista de renome internacional, o teto tão bem esculpido como quase uma Capela Cistina, se tornara grande demais para alguém sem ninguém. As cores antes cintilantes iam se tornando gris.
Há muito tempo, que todos que outrora o cercavam ficaram para trás, aliás, vale frisar, por conta dele mesmo. Da ganância, da falta de escrúpulos para chegar aonde chegou. Os familiares e os amigos não existiam mais para ele, e o que nunca havia feito falta, agora começava a latejar em seu peito.
Naquela noite, ao deitar-se à suntuosa cama, demorou demais para dormir. Fato esse que não acontecia desde a época em que ainda lutava pelo que considerava um lugar ao sol. Pela primeira vez em muitos anos, sentiu falta da mãe, do pai, dos amigos. Finalmente resolveu fazer o que prometera a si mesmo nunca fazer. Indagou-se se realmente valera a pena desistir de todos em nome de si mesmo. Preferiu não achar a resposta. Afinal, a segunda o aguardava e esperava estar melhor do que julgara um sentimentalismo barato que o acometera. Pediu um Lexotan ao serviço de delivery de uma farmácia e enfim apagou.

Rodrigo Barradas.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Máscaras



O ódio é o ópio dos oprimidos
É o fel! E o que é o mel no final?
Vicia a alma, joga sal nas feridas
Pois faz-se o amargo e cospe-se o mal.

Todo santo tem um “quê” de demônio
E todo demônio, nem é tão mal assim afinal
Valores de vida trocados - no prato
Só resta a gordura da carne exposta e real.

Prefiro o bafo podre e o cheiro do ralo
Do que o perfume da mentira e o botox irreal
Guardados pela égide do poder do espetáculo
E consumidos como sexo num baile de carnaval.


Rodrigo Barradas

terça-feira, janeiro 06, 2009

Todo ser humano precisa sangrar e sentir dor, para lembrar que é real



Acorda do torpor, amigo
Já não é mais feriado nem domingo
Levanta-te que lá fora tudo é mais
Do que aparenta ser, através das telas de TV.

Desentope então os teus ouvidos
Ensurdecidos pelo medo e preguiça de saber
Enquanto os jornais servem para manter o abstrato manipulado
A vida tratar-se-á de fazer a realidade aparecer.

Cedo ou tarde – tarde demais.

E é vida sim, dura, cruel, que te sangra e dói
Não é fábula, romance, ou ficção social
As bombas que o bem joga e erra o alvo, são por querer
Pois o bem, não é tão bom assim afinal.

Rodrigo Barradas

sexta-feira, outubro 24, 2008

Ávida Vida



Ah, ávida vida, que pulsa palpites de estar vivo
Sem nem certeza, afunda e nada em achismos
Disse-me o mendigo, que mendigava um cadím assim de amor
Sem o seu próprio, procurava, mas só colhia a dor

Oh pobre mendigo, já não basta a pobreza de dinheiro
Meu paupérrimo amigo ainda passas fome de amor
E a dor? Essa já é forte sem o comer
Quiçá quando nem te alimentas – sem te bem querer

Esperança, tão bela palavra te esqueceu (ou foste tu?)
Mas dizes tu, que essa palavra nunca conheceu
Pode ser que o que restava de amor próprio foi que morreu
Aí dizes tu, que em ti sentimento assim nunca nasceu

E falam tantos estudiosos sobre o tema
Como, quando, onde, quem e porque, mas entenda
Que o julgo que te julgas deve ser o julgo teu
Se foi a vida, ávida e mendiga, ou a alma que em ti morreu.


Rodrigo Barradas

terça-feira, setembro 23, 2008

Gaza



Já não há mais nada para olhar
Já não há mais nada para ver
Entre as frestas das janelas do seu quarto
A paisagem que insiste em emudecer.
Já não tens alegrias para ouvir
Só os gritos e os corpos a voar
Já se foi a razão e o por vir
Quem almeja já não pode mais chegar.
No deserto de cada ilha que é o ser
Só perdura amargura e rancor
Desespero, ódio e indiferença
Ao poder que insiste em se manter.
E cada punho que se ergue na multidão
Representa a esperança e a razão
Que tentaram lhes arrancar com violência
A indústria da mentira e coerção.

“À noite se pode ouvir o choro de Gaza e ele é mudo”.


Rodrigo Barradas

quinta-feira, agosto 14, 2008

Primavera

Tic-tac bate o relógio, bate o ponto, bate-estaca. Planta a esperança em solo argiloso – entre raízes e ossos de gatos, afundam as vigas até o fundo da alma.

Apita, então é pausa. Levanta, caminha, se senta e descansa. Mãos grossas sem tino pro fino, só o espesso concreto da aura. E o rosto marcado, queimado de sol e de sombra, que se espalha qual uma praga de gafanhotos-esperanças – apagou-lhe, apagou-a.

Plantados no chão, tantas vidas - tantos sonhos, e o que fica enraíza e floresce em mudanças, profundas e determinadas, sem fins nem meios - moral alheia flagelada.

São tantos solos, tantas cores, regados de sangue de tantas flores que um dia ousaram ousar. Até porque, nesse enorme país o horizonte só se avista ao longe, e o medo e a premissa se fundem em desproporcionais desigualdades verticais.

Mas enraizados na história também estão exemplos que se possa enfatizar. E quem são os que não se lembram do garoto subestimado, que subiu nos mastros a destroçar bandeiras e a gritar: “nous sommes le pouvoir”?



Rodrigo Barradas

quinta-feira, janeiro 24, 2008

O guia do feijão com arroz

Tá tudo louco, invertido, saravá Deus me livre, ou invertido estou eu?
E eu aqui sem entender, fundindo a cuca com a macaca e a resposta desapareceu.
É nego atropelado toda hora, meio-dia, suor mais pinga e um sorriso na cara.
Já não sabe distinguir o bom do ruim é só desgraça, lambe sola suja com cachaça.
É tanta massa que de massa só pão com ovo ou bolacha no café com fubá fria.
Levanta cedo, é prestação da geladeira, do fogão e o sonho da casa própria quem sabe um dia?
De tanta tapa, a face já rachada, aspirante a Jesus Cristo deu a outra pra bater.
Seu Zé de cicerone mostra o feio ao belo e o belo horrorizado fingindo não entender.
E a força acima da montanha, quase pé de Deus nós dizendo como viver.
São tantos postos, cargos e hierarquias, que aqui de baixo não há mais horizontes para ver.
E sem saída, horizonte, sobre-vida, o Seu Zé ex-cicerone decide não mais penar.
Procura respostas no improvável do absurdo e justamente lá encontra – agora não mais cegar.

Rodrigo Valle Barradas.


sexta-feira, novembro 16, 2007

Há tempos


Há algo que já não posso fingir não acontecer. Um sentimento de revolta me toma há tempos e agora transborda uma insatisfação social tremenda. Não há quem me faça crer numa sociedade organizada de forma vertical. A verticalização da sociedade legitima a exploração dos que estão na base dessa pirâmide desigual e opressora. A partir do momento em que passo a acreditar no poder do Estado, deixo de acreditar na minha autonomia, na minha liberdade. Os governos roubaram todos os recursos naturais que podiam desse planeta. Estamos começando a colher os frutos de séculos de descaso e assalto ao que deveria ser de todos. As mega-corporações capitalistas cerceiam sua liberdade com seus tentáculos “divinos” e onipresentes.

O mundo está definhando e é só o começo. Nada mudou da época das trevas até aqui. O que mudou foi o detentor mor de todo o poder. Antes a Igreja mandava através do Estado. Agora são as grandes corporações, que privatizam a sua vida, e o ar que você respira. As reuniões do G8 não passam de um espetáculo circense, em que os líderes mundiais são ventríloquos de empresas como a Coca-Cola, a Nike e a Shell. Nós somos mais do que simples consumidores. A partir do momento em que você se reconhece apenas como consumidor você se torna produto do Estado, que por sua vez, “terceiriza” a opressão para as grandes corporações. O grande dragão do mar existe sim, e ele quer devorar a sua alma e a sua liberdade.

Já não posso negar que a bandeira negra tremula no meu coração, pois ele tem fome de liberdade e de igualdade. E não há nada mais perto disso do que a abolição estatal, ou se preferir, a ascensão da idéia do anarquismo. Chegou a hora de tomarmos nossa liberdade de volta. Então, comece a se revolucionar – dispa-se de preconceitos, respeite a individualidade de todos e antes de tudo ame mais.
Até lá então.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Um dia de fúria. Risos para que te quero

Trim, trim, os telefones não paravam. Ele veio e jogou o meu árduo trabalho de alguns meses atrás em cima da minha mesa. Gritava freneticamente como um louco, a baba vinha em minha direção – eu desviava como um bêbado desvia dos carros ao tentar atravessar uma rodovia movimentada. “Incompetente”, ele gritava. “Vai pagar, você vai pagar”. Errei um ‘seis’, quer dizer, não coloquei um seis no lugar de um zero. Vai entender essa burocratização filha da puta. Minha cabeça parecia que ia explodir.
O meu trabalho se consistia numa amarga certeza incerta. A certeza de que teria muita coisa para fazer de baixo de muita pressão e estresse. A incerteza ficava por conta do salário, que devido a algum erro condicionado pelo trabalho excessivo de três pessoas feito apenas por uma, acabava por vir a menor. Agora quanto viria eu nunca sabia.
O meu chefe continuava gritando como um porco na fila do abate. Por um breve momento achei a cena um tanto quanto engraçada. Ele parecia que iria enfartar. Seu rosto coberto de placas vermelhas, a veia saltando no pescoço, a baba voando de sua boca, o olho arregalado, os braços se movendo de forma rápida, e o seu ridículo tique nervoso que o fazia colocar a língua para fora como um cágado – e eu? Eu caí numa tremenda de uma gargalhada que ecoou por todo o escritório. Cabeças pululavam por cima das saletas divisórias de compensado. Talvez a palavra saleta fosse até um elogio, porque na verdade eram cubículos, como essas casas de passarinhos ou de ramisters.
O meu chefe ficou atônito, parecia que não acreditava no que via. Eu ria freneticamente. Sabe aquelas crises de riso? Pois bem, a minha barriga já doía demasiadamente e as lágrimas já escorriam pelo rosto. E eu que pensei que o ápice do meu desespero e estresse me levaria a explodir como num dia de fúria Hollywoodiano, à lá Michael Douglas.
Pegaria minha mochila e sairia sem dizer nada, enquanto via a reação de surpresa do meu chefe e a sua voz abaixando até ele gritar: “Aonde você pensa que vai?”. E eu fecharia a porta de vidro com tanta força que ela se estilhaçaria em milhares de pedaços de vidro temperado. No corredor do empresarial, ele viria atrás de mim com aquele maldito andar engraçado, meio manco. Eu não falaria nada, apenas o esmurraria as fuças - e vê-lo nocauteado me daria um prazer quase divino de missão cumprida. Na rua, ergueria pelo colarinho o primeiro religioso de merda que quisesse me empurrar as suas malditas verdades, e gritaria com a força de um leão para que ele passasse a respeitar a individualidade dos outros. Essa deveria ser a minha explosão de fúria rumo ao nirvana da libertação. Mas pasmem. Eu apenas ri. Vai entender o ser humano.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Labuta, parte da minha história

Eles pediram o meu trabalho e eu dei
Não satisfeitos a minha alma também
Eles beberam o meu sangue numa taça de cristal
Bem devagar sendo destroçado como um animal.

A carne serve o vinho que alimenta o ego
Dá forças aos tentáculos do que foi convencionado
O orgulho é uma mentira feita para consumir o ato
Falho, estúpido, burro e estático.

Tudo é mentira nessa vida de plástico
Um cartaz, uma foto de um hambúrguer falso
Um sorriso amarelo quando se quer gritar
Um aperto de mão quando se quer matar.

Você não é vida, é máquina, catraca, chip e produção
Não há saída do poço se não existe razão
Cansado de estar cansado de não lutar
Essa inércia que não te deixa sair do lugar.

Obrigações, convenções, necessidades que te prendem
Que legitimam a opressão e o comodismo da gente
Enquanto ao luxo se dá tudo e ao lixo não se dá nada
Vamos sobrevivendo cegos amarrados a essa cabala.

Para quê sorrir sem dentes se na boca só há escorbuto?
Se teu crachá virou uma forca que te sufoca o mundo
Como na bomba de Chicago ou na batalha de Seattle
Não há vida sem liberdade, amigo, isso é fato.

segunda-feira, setembro 17, 2007

A esperança pegou um trem sem volta


A esperança se perdeu no caminho de volta para casa. Pegou o trem errado – perdeu-se no espaço sem tempo para a razão. O sonho morreu nas bocas desdentadas de um povo doente – vivendo de falsas alegorias coletivas. Carnavais infindáveis de desgraças e fugas da realidade. A ponta do iceberg pesa os ombros da sociedade. Seu fedor mostra a carniça devorada por abutres do poder – hedonismos praticados por estupradores e usurpadores da vida e da liberdade. Algozes em pele de deuses – desalmados não detentores de amor, só o lixo sub-cutâneo/ódio e rancor. A cegueira realmente contagia – Saramago profetizou ou já sabia. Essa é a vida, irreal, deturpada, oprimida, não vivida, apatia.

quarta-feira, agosto 15, 2007

As religiões o capital e a sociedade


As Religiões sempre tiveram um papel importantíssimo na divisão social, na segregação e na difusão do pré-conceito discriminatório. Esse fato dá as religiões um status no mínimo curioso: O de força motivadora da paz e reunificadora dos povos, como também aquele instrumento utilizado para semear a discórdia e o ódio através da acentuação de certas diferenças.

Tomemos como exemplo então o casamento de certos indivíduos inseridos numa determinada religião, apenas com outros de sua mesma classe doutrinária dogmática. Judeus e Muçulmanos, são bons exemplos da imposição religiosa frente à convivência social – a crença fala mais alto e torna-se o principal motivo de julgamento de caráter dentre outros fatos.

O ponto em questão, é que outras religiões como o Catolicismo e o Protestantismo, não obrigam o indivíduo em termos “morais” a casarem com iguais de crença, mas os obriga em termos psicológicos. Normalmente quando um(a) protestante vai casar com uma pessoa de outra religião, esse(a) acaba convertido(a) à religião do(a) parceiro(a).

Na busca por uma resposta que vá além da balela da tradição de costumes, cheguei a conclusão que há um fator importantíssimo dentro disso tudo. Esse fator seria simplesmente o lucro, o capital. Vejamos o caso dos Judeus por exemplo: São conhecidos por seu alto poder aquisitivo, e a capacidade de manter um ótimo nível social. Mas porque seria? Oras, a partir do momento em que um determinado grupo social, só permite casamentos entre pessoas da mesma casta, seja essa qual for, o capital sempre circulará dentro desse grupo. Explicando de forma mais clara: Digamos que um Judeu tenha um bom patrimônio e decide se casar com uma cristã – O que aconteceria? Esse Judeu teria de dividir tudo o que tem com uma pessoa de um grupo social diferente, e isso não deixaria a religião judaica feliz, uma vez que as igrejas e templos recebem donativos, ou se preferir dízimos para se manterem. Então quanto mais um membro de uma religião perde dinheiro, a religião em questão também perde. No caso do Judaísmo ou dos países islâmicos, não só a religião estaria sendo prejudicada, mas também o Estado, uma vez que tanto em Israel quanto em grande parte dos países muçulmanos, o Estado e a Religião são uma coisa só.

Se notarmos bem, é o mesmo procedimento adotado aos padres católicos. O Vaticano proíbe o casamento dos padres, não por achar isso uma coisa imoral e pecaminosa, mas sim porque se um padre casar, ele terá dividir seu patrimônio com a esposa, e o patrimônio paroquial é do Vaticano. Essa proibição que na verdade é de natureza gananciosa, acaba por legitimar os assédios e estupros cometidos por padres contra várias crianças em todo o mundo.

Aliado a tudo isso, não devemos esquecer do principal motivo utilizado pelas religiões para conseguir seus objetivos. O medo da condenação por um vil e impiedoso Deus ao inferno dos descrentes ou dos que crêem diferente. Esse é ponto, e é a partir daí que o medo se firma e se torna pré-conceito, tudo isso travestido na mas pura balela da tradição da moral e dos bons costumes.


Rodrigo Valle Barradas.

O ônibus.

O ônibus novo ou velho, traz no ventre tudo de todo tipo
Alucinados, comandados, desajeitados, manipulados e opressores
Burgueses, favelados, protestantes e estupradores
Professores, professados, cientistas, macumbeiros e mal comidos.

A cada estação uma cabeça, um coração
A cada descida uma perda um vazio, um vão
Logo preenchido por mais um louco, um normal
Um padre, um pedófilo, uma criança ou um boçal.

Um assassino, um racista, um pedreiro, um humanista
Um cantor, um vagabundo, um aleijado ou suicida
Prostitutas, santas, lésbicas, ninfomaníacas e feministas
Marxistas, capitalistas, anarquistas e masoquistas.

Todo dia meu amigo é a mesma coisa
O ônibus leva seus sonhos, medos e loucuras embora.
Um navio da esperança ou do desespero
Que te leva à vida, à morte, ao inferno, ao emprego.

Rodrigo Valle Barradas.

terça-feira, abril 17, 2007

Do consumismo à liberdade almejada.


De consumistas todos temos um pouco, uns muitos, outros nem tanto. Na verdade o que tentarei explicitar aqui não se restringe apenas ao ato de consumir, mas sim quando esse toma uma forma tão grande no âmbito do ser humano, que acaba por se confundir entre o ato consumista e apenas mais um produto - o produto consumidor e o produto consumido. De fato eu não seria tão hipócrita ao ponto de condenar completamente qualquer ato consumista. Mas há uma grande diferença entre o consumo saudável e o consumo desesperado de pessoas que tentam suprir suas frustrações e angústias seguindo a nova tendência da moda. O que está em jogo aqui, não é o simples tesão pelo consumo, mas sim o ato irracional que toma de assalto a muitos indivíduos, alimentado exageradamente pela indústria do Marketing e da Publicidade.

É fato que o Marketing e a Publicidade são fatores importantíssimos na disseminação dos produtos-fetiches e como a força despertadora desse ato, mesmo que fundado na racionalidade humana, que é o ato e a necessidade absurda de consumir determinado produto pela aceitação. E a pós-modernidade trouxe essa mentalidade do consumo pela aceitação. Muitos indivíduos consomem certos produtos, certas roupas, para se fazer aceito em determinado grupo, seja ele de ideologias diversas e/ou puramente da futilidade modista. Ora, então o que podemos ver aqui é que o que você consome, vale mais do que o que você pensa. Seguindo essa linha de raciocínio, o indivíduo deixa de ter uma identidade individual / sua, para viver uma identidade plural / coletiva. O Homem então passa a representar aquele produto que consome, tornando-se o mesmo produto, por digerir os valores desse - mesmo que esses valores sejam tão artificiais.

Shoppings, lojas de departamentos, brechós, lojas de eletrodomésticos, de brinquedos, roupas, carros e grandes construtoras, são os oásis do consumismo exacerbado. Os grandes shoppings, essas obras faraônicas dos tempos modernos e seus arquétipos consumistas e lucrativos, acabam por persuadir o cidadão a consumir, a ser, ter, viver, ser aceito, estar, sem morrer, a imortalidade dos faraós Egípcios que só o dinheiro e o status quo podem comprar. Criam-se então novos monstros, múmias contemporâneas - socialites com rostos plastificados por dentro e por fora em sua maior parte.

O consumismo louco legitima o trabalho e a exploração infantil em países subdesenvolvidos. Multinacionais como a Nike, exploram até as últimas a mão de obra barata desses países, instalando suas fábricas, economizando em impostos, e destruindo a infância de milhares de crianças, que devido à precária condição de vida em que se encontram, passam então a trabalhar nesses lugares - com o aval dos diretores, claro, e assim, ao invés de estarem nas escolas, estão trabalhando pesado, nos porões e confins úmidos e hostis, acidentando-se e sub-vivendo.

Quando na TV, passam as propagandas, numa rajada de cores, falsos sentimentos, brilhos, e plasticidades - e aqueles que mal tem o que comer, dentro de seus barracos, cortiços, cabanas, buracos, olham tudo de forma inerte e olhos arregalados e sentem a frustração de não poder ter aquele produto para pelo menos uma vez olhar de igual para igual o seu vizinho narcisista de nariz empinado que o despreza todos os dias. Ou a sensação de angústia e frustração de ver seu filho passando fome e ter que engolir o choro para não piorar a situação, faz com que surjam sentimentos de revolta e angústia capaz de transformá-lo no que a sociedade classifica como “bandido”, “marginal”. Mas é aí que está a chave - saber canalizar esse sentimento para um sentimento de revolta, porém, uma revolta de insurreição consciente, contra a opressão do estado e não através de uma violência sem sentido, contra quem estiver na frente, como um Machine Gun sem senso de direção.

De antemão, já me coloco a disposição para ser crucificado pelos mais ortodoxos - acho até que o anarquismo tem de aprender algumas coisas com o capitalismo, e o capitalismo deva aprender muita coisa com o anarquismo. O ato de utilizar algum objeto como moeda de troca estava por aí muito antes do mercantilismo e do capitalismo – então não é acabando com isso que se vai acabar com a exploração, pois o buraco fica muito mais embaixo. O capitalismo e seu consumismo ignóbil e irracional é que tem que de uma vez por todas entender, que o amor, a liberdade e o caráter de ninguém estão à venda. Já somos consumidos pelo estado e pelos nossos patrões todo santo dia. Não podemos permitir que consumam nossas almas e nossa liberdade. Já disse o Willian Wallace uma vez: “eles podem tirar a nossa vida, mas nunca a nossa liberdade”. Mas enfim, de que liberdade estamos falando? Alguém aqui se sente realmente livre?
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*OBS: Texto retirado de um projeto de livro que há tempos tento escrever a duras penas - mas sem nenhum tempo. Tinha até me esquecido que havia escrito isso. Verei se retomo a produção.
Rodrigo Valle Barradas.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Quando passamos a enxergar além das frestas do caixão de nossos dias.



É verdade, eu nunca pensei que meu estado de revolta pudesse chegar a um estágio tão avançado. E nem foi tão difícil assim. Quando olho ao redor, quando ando nas ruas, vejo TV, ouço rádio – é na verdade eu nem ouço rádio, mas tudo bem. Sabe, quando se chega nesse nível tudo é tão transparente como as águas do caribe ou da privada. Da água pro vinho, ou seria do leite para a cachaça? Não importa, pois o que vale no final é conseguir enxergar além dessa névoa que insiste em pairar no ar, sobre nossas cabeças ou sob nossas vistas. Pode ter certeza meu caro, que o poder da grana está impregnado no mais simples detalhe, do barroco ao clássico, do renascentista ao moderno, da insígnia do capitão da polícia ao número de série raspado da arma que o traficante leva na cintura. Da hóstia do padre à coroa do papa. Da faixa do presidente às contas numeradas em bancos da suíça com dinheiros desviados. Do sorriso irritante de um deputado à idade exata de uma prostituta infantil em sua cama de motel. Em cada canto, lá estará ela, corrompendo, manipulando, estuprando e assassinando.

Você assiste a TV e de repente tudo é falso, impregnado de moral, regras, normas e condutas, que castram, te privam, te prendem, sempre com um propósito. O seu trabalho é uma droga, e de repente você percebe o quão é explorado, humilhado, manipulado. O estado passa a ser um maldito Talk Show idiota apresentado pelo mais completo desgraçado com rosto plastificado e maquiado da TV, sorriso medonho e dentes fluorescentes com aparelhos de néon. Os religiosos te condenam ao inferno quando deveriam ajudar – a África definha em Aids e fome enquanto o Vaticano se afoga em dinheiro e condena o uso da camisinha quando não tem a menor capacidade de condenar seus padres pedófilos. O novo salvador surge e é tão mentiroso que o cheiro de naftalina e formol e um pouco de cal em seus cabelos condenam seu verdadeiro caráter. Sabe meu velho, é justamente aí que conseguimos abrir os olhos, mesmo com tanta terra e desentupidor de pia jorrando em nossas íris. Aí irmão, aí não tem pra mais ninguém – pois quando chegamos nesse estágio, os elos das correntes do autismo imposto se quebram, e a fúria que carregamos dentro de nós é tão destruidora como o desabrochar de uma flor na primavera parisiense de 68.

As bombas são jogadas ao vento, entre molotovs e carros tanque, você sabe que ali é o seu lugar. De frente ao batalhão de choque, a gestapo contemporânea, você os enfrenta com estilingues e punhos cerrados, máscara negra no rosto e coração pulsante. Pelos oprimidos e contra os opressores, inquisitores modernos da nova igreja quadrangular do liberalismo transcendental. Você se joga à sorte e a sorte se joga contra você. O medo lhe arrepia os poros, mas já sabes que é tudo ou nada meu chapa. A liberdade ou a prisão maquiada? A Matrix existe, e sinto lhe dizer meu caro que tu vives nela. Que pílula então tu escolherás? A azul, a vermelha ou a negra? Não importa, pois tu tens uma pílula dentro de ti - enxergue-a! E esta meu amigo, não precisa de cor ou dogma, apenas de vontade de viver, de lutar, de amar, de ser livre e de ser feliz.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Alguém que sangre por você




*Curtindo de leve as férias! Tinha até me esquecido disso aqui. Acabei tirando férias dos meus textos também. Colocarei uma poesia marginal minha apenas pra não deixar esse blog entregue às aranhas, ácaros e baratas...
Depois espero voltar com mais crônicas.

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No fantástico show de horrores de cada tempo há de surgir
Alguém para sangrar e te mostrar
Que os espinhos no caule são flores em campos minados
E todo comprometimento do eu, é só uma tarefa à cumprir
Ninguém quer pisar na lama com seus sapatos importados

Exercitam o dedo e a lábia, só falácia... só falácia...
Seus colarinhos são muito brancos para sujar de sangue
E ele não tem nada à perder - juventude e punhos tão dispostos
Teorias, ideais ou utopias - todos tem!

E podem até discernir sobre tudo isso
Sentados em poltronas entre um placebo e um soma
Enquanto no campo de batalha só Quixote sangra
E então sangrou tanto que morreu

Morreu por ti, morreu pelas novas gerações
E as novas gerações chegaram, sem saber que ele existiu
Um novo Mártir há de surgir, pra sangrar por todos vocês
Por todos nós...

Sempre o mesmo ciclo, e ainda assim... não aprendemos!

*2 Imagem = Carlo Giuliani - Manifestante anarquista e poeta Italiano, assassinado aos 23 anos de idade pelas forças repressoras em Gênova, Itália, numa manifestação contra o G8.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Realidade meio concretista


O sol massacra escaldante, entorpece a razão, e nas calçadas destruídas, tão reais – irracionais, os camelôs erguem suas esperanças sob a ganância dos royalits e acima da pirataria new-school das grandes corporações capitalistas – pirataria digital – tão racional, é a lei – a lei do cão, da Sub-Vivência, abaixo da lama, underground luminescência da alma, de um velho encanador em sua bicicleta velha a gritar, já sem voz “encanador, encanador”, e ninguém percebe a sua dor – engana a dor... nos enganamos todos os dias, riso morto, alma fosca, apatia, cores, tv, caixa de pandora, néctar da vida, que arranca o último suspiro da boca, do pulmão negro, de um velho preto velho, de uma pobre comunidade quilombola, que gosta de bola, de assistir mas não de jogar – não sabe ler, escrever e nem em quem votar, talvez o que voltar a lhe dar uma dentadura ou uma telha nova, para não mais pingar gotas de realidade no seu lar, nos seus filhos, netos, chão, coração.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Sobre Luther Blissett


Como ando meio sem tempo de postar alguma crônica minha, colocarei textos sobre o Luther Blissett retirados do Wikipédia mesmo. Aliás, considero hoje, indispensável conhecermos a história do Luther Blissett, pseudônimo de várias e várias pessoas. Eu sou Luther Blissett, você é Luther Blissett, nós somos Luther Blissett. (Luther Blissett Project)

Segue na íntegra:
Luther Blissett é um pseudônimo multi-usuário, uma identidade em aberto, adotada e compartilhada por centenas de hackers, activistas e operadores culturais em vários países, desde o verão (no hemisfério norte) de 1994[1]. Na Itália, no período 1994-1999, o chamado Luther Blissett Project (mais organizado no seio da comunidade aberta que utiliza o pseudônimo), adquire notoriedade tornando-se uma lenda, uma espécie de herói popular, um Robin Hood da era da informação que organiza zombarias, passa notícias falsas aos mídia, coordena heterodoxas campanhas de solidariedade a vítimas da repressão.

Origem do nome:
O nome Luther Blissett[2] foi inspirado em um atacante futebolista inglês negro, de origem jamaicana jogou no pequeno clube de Watford durante a década de 70 até a 90. Contratado pelo Milan da Itália, foi considerado uma das piores atuações de um jogador no clube, portanto devolvido ao clube de Watford onde é o maior artilheiro do time. Sobre o fato de ser o inspirador da contra-cultura do Luther Blissett Project na Itália e no mundo, se recusa a falar sobre o assunto, o verdadeiro motivo pelo qual foi escolhido o nome de Luther Blissett para a nomeação do projeto.

Notícias falsas:
As notícias falsas fabricadas por Luther Blissett são uma forma de ridicularização e humilhação da mídia de massa, ou comumente chamada grande mídia. Por exemplo:
Em 1994, Luther Blissett simulou em Bolonha uma fase de "Horrorismo", como denominado pela mídia local, animais destroçados foram encontrados nos parques e praças da cidade e em centros de religiosos de Bolonha. A "população" começou a enviar centenas de cartas aos jornais e TV da região relatando o acontecimento e diversas notícias foram ao ar, crônicas de psicólogos e sociôlogos em várias páginas de jornais, o acontecimento somente foi desmentido depois de uma carta de Luther Blissett, que nada daquilo havia acontecido, o único "horrorismo" daquela história era o sensacionalismo a mídia.
Em 1995, o programa de TV "Quem o Viu?" recebeu o comunicado de uma rádio de Bolonha que do desaparecimento do artista inglês Harry Kipper, informado pelo grupo inglês chamado "Amigos de Kipper" dizendo que seu amigo havia sumido durante uma viagem de bicicleta no norte da Itália, o programa foi a Londres entrevistar os Amigos de Kipper e gravar lugares onde o artista costumava passar e foi também em algumas cidades que Kipper havia passado como Bolonha e Udine. O programa prestes a ir ao ar foi informado pela polícia inglesa que era um desaparecimento falso, não havia registro de Harry Kipper na Inglaterra e nem outro lugar. Dias depois a história foi contada para todos os jornais da Itália com os créditos para o tríplice grupo chamado Luther Blissett.
Em 1996, alguma pessoa da internet auto-intitulada Luther Blissett é contactada por Guiseppe Genna da editora italiana Mondadori a fim de organizar um livro de Blissett com uma coletânea de textos, depois de várias conversas, LB envia para Giuseppe seus textos para a publicação, mas com um pequeno porêm, textos esses que eram de redações escolares, textos totalmente sem nexo retirados da internet e re-organizados mais sem sentido ainda sobre tecnologias, entrevistas e assim por diante. O livro é lançado com o nome net.gener@tion organizado por Giuseppe Genna. Depois de publicado, uma nota nos jornais foi colocada mostrando a verdadeira história sobre o livro, seus textos delirantes e mentirosos.

Totó, Peppino e a Guerrilha psíquica:
O livro Totó, Peppino e a Guerrilha psíquica é uma coletânea de escritos de Blissett publicada pela editora Einaudi em 2000. O nome teve origem nos programas da dupla Totó e Peppino comediantes italianos da década de 50, eram comédias bizarras, com qualidade de produção péssima, devido a pouca tecnologia na época. Um dos programas chamado Totó, Peppino e i fuorilengge reflete situações de simulação, falsificação, disfarce e fraude.

Q, o caçador de hereges:
O romance Q é redigido no triênio 1996-98 por quatro membros do grupo bolonhês do LBP (Luther Blissett Project), sendo publicado pela editora Einaudi em março de 1999. Nos anos seguintes é traduzido para o inglês, espanhol, alemão, holandês, francês, português (do Brasil), dinamarquês e grego.
Os quatro autores do Q, o Caçador de Hereges saem a céu aberto em 6 de março de 1999 com uma entrevista para o diário La Repubblica. Apesar do título sensacionalista, nas respostas não se reduz de maneira alguma a complexidade do fenômeno Luther Blissett nem, muito menos, se renuncia às práticas anteriormente adotadas. "Os nossos nomes têm importância mínima e a das nossas histórias individuais é ínfima. Somos a equipa que escreveu Q, mas não chegamos a constituir o 0,04% do Luther Blissett Project". Além da complexidade da trama e do seu valor alegórico, o livro desperta interesse também pelo fato de ter sido publicado em uma espécie de fórmula copyleft. Surpreendem-se os que ignoram que a crítica prática da propriedade intelectual é uma pedra angular do LBP.
Em dezembro de 1999 termina o Plano Quinquenal do LBP. Todos os veteranos (os que utilizam o nome desde 1994) perpetram um suicídio simbólico, denominado Seppuku (suicídio ritual japonês). O encerramento do LBP não implica de forma alguma no fim do pseudônimo, que continuará a ser adotado por muitas pessoas em vários países.
Em janeiro de 2000, uma quinta pessoa alia-se aos autores do Q e nasce uma nova banda de narradores, Wu Ming ("anônimo" em chinês mandarim). O livro Q tem passagens que é muito lembrada pela escrita de Umberto Eco, rumores dizem que o livro Q também teve a mão a do escritor, mas nada realmente concreto[3].

"Quantos Zé ninguém e Luther Blissett existem espalhados pelo mundo? Se nosso vizinho de casa desaparece, saberemos "tudo" pela televisão, sem nem a necessidade de olhar pela janela. A mídia de massa nos oferece a medida da nossa existência. Muitos vivem para aparecer, mas somente poucos aparecem para viver. Luther Blissett apareceu desaparecendo. Pode desaparecer uma pessoa que não existe? Principalmente se seu nome for apenas o pseudônimo do suposto ilusionista Harry Kipper, misteriosamente desaparecido? Ser e não aparecer, e quem resolve aparecer atrás de um nome coletivo faz isso para desarrumar as regras do jogo. Se na mídia aparece o rosto de Luther Blissett, este é com certeza mais um falso, pois LB possui rostos demais para ser representado somente por um. Mas acima de tudo porque, se está presente na mídia, então desaparece como LB, isto é, prefere-se a aparência à existência."
(Luther Blissett)

domingo, dezembro 10, 2006

Ranços e Ideais (Conto)


Descia a rua do Hospício cruzamento com a Avenida Conde da Boa Vista.
Um calor infernal, fedor, odor, sujeira, caos e vida.
A calçada destruída como as vidas dos transeuntes...
Sim, eu podia ver em seus olhos, suas almas apedrejadas pela frustração, pela dor e pelo ranço.
Na boca desdentada, um sorriso amarelo...
Na alma, um vazio eterno...
Faltava apenas um quarteirão até a parada de ônibus...
E eu podia optar por duas linhas:
Setúbal Conde da Boa Vista, ou Massangana/Boa Vista... Na verdade não estava preocupado.
Eu estava até adiantado... Só pego no batente as nove da manhã...Ainda eram oito horas.
Mais ou menos na metade do quarteirão vi algo que me deixou apreensivo.
Um Homem extremamente mal-trapilho, sujo, feio, fétido e mal encarado.
Olhou-me nos olhos...
Senti o medo percorrer-me a espinha arrepiando cada poro do meu corpo.
A sua mão lentamente desce em direção à cintura...
Levanta um pouco a camisa... Algo reluz...
Nessa hora vejo-me suando frio...
Era uma arma! Um revólver 38, cromado, cano longo.
O Homem saca a arma rápido, e a aponta na direção da minha cabeça.
Posso ver no tambor do revólver as seis balas, dentro de cada um dos compartimentos.
Sinto-me sufocado...
O ar não passa, fico um pouco tonto, e das minhas mãos pingam gotas de suor. Maldita “Distonia”.
O Homem fala algo que não entendo...
Repete...
Agora entendo, ele anuncia o assalto.
Pede minha carteira...
Por um momento eu hesito.
Ele ameaça matar-me.
Tremo nas bases...
Noto o evidente nervosismo do Ladrão.
Entrego-lhe a carteira de prontidão...
Ele a abre...
Cinco Reais, documentos, e comprovantes de algumas compras que tinha feito.
De fato, percebi logo que a coisa iria ficar realmente "preta".
O Mal-trapilho ladrão jogou a minha carteira com muita força ao chão.
Com a outra mão, empurrou-me na altura do peito, fazendo-me sentir uma forte dor nas costelas, na base da caixa torácica.
Recuo um pouco...
O Ladrão não fala mais nada...
Volta a apontar-me, a arma...
Agora entendo...
Vou morrer... Vou morrer!
Um segundo vira uma eternidade...
Seu dedo lentamente pressionando o gatilho para dentro.
Um enorme barulho se precipita na altura do cano.
Meus olhos podem muito rapidamente captar o fogo saindo do revólver.
Algo me atinge a cabeça...
Atingiu-me na altura da testa, não sinto dor, confesso...
Só sinto algo me entorpecer a mente.
Aos poucos sinto meu corpo desfalecer.
A visão escurece...
Então eu morro.
Mais uma vítima da violência!
Mais um na estatística!

Então volto à realidade...
O Homem ainda vem em minha direção, e percebo-me o olhando com medo.
Existe uma barreira invisível entre nós.
Uma barreira que, segrega-o e ele sabe disso!
O Homem fita-me os olhos...
De fato, não pude dentro de meu egocentrismo, travestido numa Pseudo-Mente esclarecida, entender o que se passava na cabeça daquele Homem naquela hora.
O vejo distanciar-se e perder-se na multidão...
Apenas um anônimo...
Quando não põe medo, apenas um fantasma.
Ninguém o nota...
Continuo a andar...
Vejo meu reflexo na vitrine de uma loja.
Encaro-me...
Sim, existia alguém armado naquele dia...
E esse alguém era eu!
Armado de um pré-conceito que nem eu sabia que tinha...
Logo eu que era tão esclarecido...

Fitei-me mais uma vez através do reflexo.
Senti vergonha de mim mesmo.Ajoelhei-me e chorei.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Realidade Kafkiana.

Um sábado desses, como de costume, estava a caminho do curso para pegar a minha namorada. No ônibus tranqüilo, lia “O Processo” do Franz Kafka, e todo o seu existencialismo e angústia frente ao mundo moderno e a massificante burocratização da vida humana, urbana. Algo me chama a atenção lá fora, um homem agride uma mulher, que julgo ser sua esposa, pois ao lado um garotinho assustado assiste tudo, não devia ter mais que três anos. Fico perplexo, olho para os lados, na calçada, vários homens assistem tudo como se estivessem assistindo mais um capítulo da novela das oito. Logo ao lado, um caminhão de mudanças é descarregado por no mínimo quatro homens – e ninguém faz nada.

O “homem” puxa os cabelos da esposa e em seguida lhe dá uma forte gravata. Eu me desespero, lembro que no ônibus, haviam dois policiais. Chamo as suas atenções e lhes aviso do ocorrido, já imaginando o ato heróico destes destemidos guardiões do povo. Os imagino gritando “Abre a porta aí motô” e logo em seguida correndo para salvar a pobre moça indefesa. Triste engano o meu, pois um dos policiais só dá uma olhadela por cima da janela, para logo em seguida balbuciar alguma coisa ininteligível, e só. Uma mulher sentada na frente dos policiais grita: “Que covardia, chamem a polícia”, e eu penso: “Seria cômico se não fosse trágico”.

Parecia que eu havia me transportado para um mundo Kafkiano, aonde nada funciona, e o individualismo e a indiferença falam a língua dos anjos. Sem querer parecer sexista ou machista (coisa essa que condeno), bons tempos eram aqueles em que os cavalheiros salvavam as damas das mãos dos malfeitores, para ganhar um beijo ao final, com direito a um pezinho levantado e tudo o mais. Mas, não estamos num conto de fadas que tem um final feliz. Essa história é uma história Kafkiana, não temos heróis, ou pelo menos não temos finais felizes. O mocinho sempre morre no final, esquecido, afundado na mais profunda merda, lentidão e descaso do sistema. Nesse livro o mocinho não usa gel, não casa, não tem quatro filhos e um cachorro, e nem mora em uma bela casa branca com cerca e um grande jardim florido. Nesse livro a verdade é outra, pois as cercas são as cercas da prisão, do estado, do medo e o seu cão, esse é um Vira-Latas pulguento chamado Xôla.

Vejo que poucos policiais fazem o que fazem por que gostam. Talvez aqueles que quando crianças imaginavam revólveres com qualquer graveto ou objeto, e passavam tardes inteiras brincando de polícia e ladrão. Mas o que me parece, é que muitos têm um sério problema de conduta e respeito – esses tem os dedos nervosos prontos para dar um tiro no primeiro dentista negro que dirija um belo carro, por confundi-lo com um bandido. Muitos, não fazem diferença entre o valor da vida e do respeito, e só querem uma desculpa para descontar suas frustrações e angústias. Por que eles iriam se incomodar? Tratava-se de um casal de baixa renda, desses que vão à praia aos sábados e domingos e passam a tarde escutando brega e enchendo a cara de cachaça. Não são gentes para o estado, são um estorvo para a elite, e muitos policias levam essa mentalidade tacanha para a vida, mesmo estes não fazendo parte dessa facção criminosa, elitista e demagoga.

Enfim, o ônibus começa a andar – minhas esperanças já haviam se esvaído por completo - quando percebo outros dois policiais na rua, correndo em direção ao casal, prontos para por um fim naquilo. O ônibus se distância, fico um pouco mais tranqüilo, mas meu semblante é de ódio, ódio por aqueles policiais omissos. Tento voltar a ler – já não consigo mais. Pois já estamos num mundo ora Kafka, ora Dom Quixote. Que sorte aqueles policiais com armas de gravetos, terem aparecido pra salvar a donzela dos braços do grande dragão de pedras. Mesmo assim meu semblante não muda, pois sei que no final, nem o Gregor Samsa e nem o Josef K saem ilesos, pois é assim no mundo de Kafka, e é assim no mundo real.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Sodoma e Roma, qual a diferença?


Sempre foi assim...
A juventude doente por causa de velhos doentes...
Doença da alma, do ranço de dias que nem lembramos mais.
É social, é tão normal, você não é normal?
Que droga penso eu...
A normalidade social dos falsos moralistas
Perdeu a graça, nunca teve razão
Critica aqui, faz igual ali...
É tão lícita quanto nossa corrupção.
Criminosos com ternos de executivos...
Compraram seu lugar no céu pagando à vista.
Afinal qual a diferença?
Sodoma e Roma, qual a diferença afinal?

A ética e a justiça, o tapete escondendo o lamaçal
O grande e amargo sorriso do ser normal

E o clero condena à fogueira todos os pecadores
Às chamas com as Bruxas que eles ajudaram a criar
Deus todo poderoso quer ver as chamas chegarem aos céus
De todas as ovelhas que perderam-se do rebanho ao fraquejar
E em casa todas as famílias salvas assistem aos canais de televisão
Passarem propagandas de Sodoma e Roma, da lama da Cevada à Política...
O Lamaçal travestido em cores, falsas promessas e sorrisos amarelos
O ciclo da normalidade, do câncer social, e do circo sem risos...

segunda-feira, novembro 06, 2006

O três Mosqueteiros: A direita a esquerda e o voto nulo.


No mês passado ocorreu mais uma eleição para Presidente, Senadores e Deputados. Nos vimos novamente envoltos em uma atmosfera política esquecendo, por um breve momento até do Futebol. Mais uma vez o TSE fez seu dever de casa, divulgando de forma cansativa o jargão: Vota Brasil, Vota! E inertes olhamos tudo, de peito inflado repetíamos robotizados: “Temos que exercer o nosso direito de cidadão, nós temos que votar...” E com um sorriso amarelo nos lábios fomos lá, no colégio eleitoral especificado, exercer a nossa democracia.

A campanha Presidencial em especial, fora marcada por inúmeras acusações ao então Presidente Luis Inácio Lula da Silva, e principalmente ao seu Partido, o PT, envolvido em vários escândalos de corrupção. O que os Tucanos alegavam era que Lula teria o “rabo preso”, ou então teria feito “vista grossa” à roubalheira exacerbada no seu governo. Por outro lado, tinham como principal oponente o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que na levada da Maré Tucana, continuava batendo na mesma tecla das acusações, quando hoje, queria que o povo esquecesse e muitos até esqueceram o histórico de roubalheiras e de “cambalachos” promovido pela “ala” um pouco mais conservadora do quadro político brasileiro, a chamada direita.

Em meio a esse “maniqueísmo” ainda haviam aqueles que tinham no voto nulo, uma forma de exprimir seu protesto ao atual (ou eterno) quadro Político desta república de bananas (ou seria de pizzas?). Pelo menos, até o começo deste ano eleitoral, se mais de 50% dos votos fossem nulos, a eleição SIM, teria de ser anulada e remarcada. Mas como numa Ditadura, um Regime totalitário, o TSE, como bom “aluno”, fez seu dever de casa muito bem e anulou o efeito de nulidade de uma eleição, cerceando assim o direito de liberdade de escolha individual ou coletiva do povo. Josef Stalin, Mao Tse Tung, Hitler, Mussolini, Fidel Castro, Médice ou Geisel, Ditadores destros ou canhotos, se encheriam de orgulho com um ato desses. Ratifico “maniqueísmo”, pois a terceira linha ideológica, a do voto nulo, por ser totalmente marginalizada e ter seus direitos amputados pela lei vigente, acaba por não entrar na mente do “bom cidadão”, aquele que em meio a um tremendo ufanismo, acha que o Brasil é um País altamente democrático, e que o voto “obrigatório” seria a máxima dessa Democracia.

A eleição fora para o segundo turno, de um lado o Lula, do outro Alckmin. O retrato de dois Brasis. Um o Brasil representado por um homem do povo, migrante nordestino, proletário e amputado. O outro representado por um homem da classe média, com ótimo estudo, filho de um ex Vice-Presidente do AI-5. De um lado, o povo que acreditava piamente em Lula, e como Marilena Chauí se negava a ler notícias a fim de não manchar sua visão Romântica do PT. Do outro, o povo que cego pela ignorância e incentivado pela Revista Veja e Pseudo-Filósofos como Olavo de Carvalho - esse, defensor da Ditadura - acreditava que elegendo Alckmin, algo como uma cópia Chinesa de Fernando Henrique, mudaria alguma coisa, esquecendo assim as décadas que no poder, os Tucanos governaram para a elite.

Na verdade, infelizmente ressaltamos que, com Lula ou com Alckmin no poder, com a “esquerda” ou a “direita” as coisas mudariam muito pouco. Sem querer parecer ambidestro ou totalmente amputado, a política no Brasil está totalmente infectada por um ranço cultural tão grande que se reflete na nossa atitude de cidadão padrão. Ficamos então a espera de um “Messias”, que utopicamente, cuspiria as faces dos falsos salvadores, para que depois morresse na cruz tornando-se mártir, e quem sabe assim, poderíamos lucrar um dinheiro extra com algumas camisetas que estampassem o seu rosto, no melhor estilo “Malandragem Brasileira”.

OBS: Desde já, adianto que a repetição de assuntos e trechos de outras crônicas, se deve a essa crônica em especial ter sido feita para fins de trabalho da disciplina Português III na faculdade.

quarta-feira, novembro 01, 2006

No Way to the Human´s.


Hoje de manhã estava me lembrando de um fato ocorrido há alguns anos atrás em algum lugar perdido nos Grotões desse Brasil. Um operador de Máquinas que mesmo recebendo ordem da Prefeitura de sua cidade para que derrubasse com seu Trator algumas casas construídas de forma ilegal (invasão), esse homem vendo o desespero dos moradores negou-se a proceder com tal ordem e com lágrimas nos olhos preferiu ser levado à prisão a ter que destruir o sonho das pessoas envolvidas. São casos como esse que em meio a tanta sujeira, violência, demagogia e malandragem, me fazem voltar a crer nos (ir)racionais seres-humanos. Só que em meio à euforia dessa notícia, num bloco após vemos todo o Darwinismo assassino e porco que os seres humanos carregam dentro de si, numa série de notícias que mostram o lado mais estúpido que só o Humano tem: Guerras, Corrupção, Assassinatos, Estupros, Racismo, Intolerância Religiosa, Homo-fobia... E toda a visão Romântica que por um instante começava a ter do “Homem” se esvai assim tão de repente. Cada vez mais, me convenço de que não necessitamos de uma “revolução” econômica, mas sim de uma revolução pessoal – eu, você, ele, ela – cada um tentando despir-se de todo o preconceito que sabe que tem, e tentando achar os que nem imaginamos ter, e parafraseando esse texto jogo um trecho de uma música do Dead Fish: “...O Homem nu subiu ao palco e fez o que você não quis / O homem nu não te tocou, mas você se sentiu invadido / Ele pode te ver, mas você não / O Homem nu rasgou a Bíblia mesmo não tendo Religião / Você é livre, você é bom, dispa-se e me ignore”.

Enfim, dispa-se de seus valores e preconceitos, tire suas máscaras e seja você mesmo.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Bradley Will, reporter do CMI assassinado no México.



Bradley Will, conhecido repórter/correspondente do CMI fora assassinado no México, mais precisamente na cidade Oaxaca, onde nesse exato momento está sob um levante popular contra o Governo de Ulisses Ruiz, governante corrupto e assassino, partidário do Presidente Fox, aquele mesmo, o amiguinho de George Bush.

Sexta, dia 27 de outubro, Brad foi baleado no peito por uma milícia pró governo quando registrava imagens do levante popular e do conflito dos “populares” contra a milícia em questão. Ulisses Ruiz, governante acusado pelo povo e professores de corrupção e assassinatos, teve de lidar com um forte levante popular apoiado pelos professores da universidade de direito e ciências sociais de Oaxaca, que nas ruas, ainda tentam tomar o poder e instaurar um regime fundado em assembléias populares. Brad não resisitiu e morreu no local.

Breve Histórico de Bradley Will retirado de reportagem do CMI Brasil: Brad era um jornalista americano, importante colaborador da imprensa independente no Brasil e na América Latina e aliado dos movimentos populares. No Brasil, por exemplo, sua colaboração foi decisiva para a denúncia do massacre contra os sem-teto da ocupação Sonho Real em Goiânia. As imagens que registrou da ocupação e do ataque sofrido pelas forças policiais do estado de Goiás chamaram a atenção do mundo para a situação dos sem-teto. Brad também cobriu os mais importantes processos sociais do continente nos últimos anos, com vídeos e matérias sobre a rebelião dos Aymara na Bolívia, as assembléias e piquetes na Argentina e a "Outra Campanha" no México. Mas foi seu último trabalho que o levou à morte.

No Vídeo acima ou no link logo abaixo, poderemos ver o último vídeo desse que merece o nosso maior respeito, assim como os seus desesperados últimos segundos, baleado e logo em seguida...

http://video.google.com/videoplay?docid=-3664350201077731285
Deixo esse final para uma reflexão:
Por que, aqueles que justo se importam, que choram, que sentem, e lutam contra a opressão de outros, venham a ter um fim assim, trágico? O que leva uma alma, um ser, alguém, a sair de sua casa, segura, em uma América etnocentrista, para através de suas reportagens, imagens, documentários, e sentimentos, lutar por aqueles que nem mesmo conhecia? Bradley´s, Guevaras, Gandhis e tantos outros... Será que há algo errado nesses? Ou somos nós mesmos que preferimos ficar em casa, envolto numa sensação quase materna de segurança, a espera do Messias?
Ah se houvessem mais Bradley´s, Guevaras, Gandhis, Durrutis e etc...
E por que não nós?
Deixemos então que nós mesmos possamos guiar nossas vidas e quem sabe ajudar a vida dos outros.

Já dizia uma música: "Os bons morrem cedo".

OBS: Só Pra que fique claro uma coisa, Bradley não recebia um Tostão para fazer o belo trabalho que fazia. Brad fazia isso em prol dos oprimidos.


http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/10/363227.shtml

terça-feira, outubro 24, 2006

Paradoxo Sofista.



Um menina magra desnutrida vai descendo a rua, canelas finas, doente, semi-morta, dor e angústia, falta de comida, falta de dignidade, falta de vida. Ao seu lado passa uma garota de classe média alta, “Patricinha”, magra, doente, semi-morta, em busca de “dignidade”, falta de vida, de vida real. Um Paradoxo – Uma vítima da ganância e do descaso dos Governantes – vítima de décadas e por que não séculos de exclusão social. A outra – vítima da procura do padrão de beleza, que massacra, que lhe adoece o corpo e a alma. Essas duas são o retrato de dois Brasis - Um o Brasil semi-alfabetizado, desnutrido, miserável, esfomeado, alienado. O outro um Brasil Rico, Fashion, 1° mundo... Mas, também alienado, que agrega os valores do mundo ocidental capitalista, agrega também suas fobias e doenças – a bulimia e posteriormente a anorexia.

Maniqueísmo à parte, quem é o vilão e quem é a vítima? A classe miserável abaixo da linha da pobreza é sem dúvida vítima, mas também muitas vezes vilã de si mesma. Não no ponto de estar nesse patamar por querer, mas quando muitas delas entregam suas vidas, seus futuros a uma força divina – deixam de querer e pedir mudança por cair no senso comum de dizer que está nessa posição por que seu deus quer dessa forma. A classe média alta, que nesse breve ensaio é representada pela doente de anorexia, pode ser vítima por fazer parte de um meio, de um fim, por aceitar ser produto pela aceitação e por isso, também, torna-se sua grande vilã.

São dois Países em um só. Dos mais distantes grotões e bolsões de miséria aos altos prédios e enormes casas da classe média alta. De um lado a mais dura realidade de um povo massacrado, enganado, e assaltado todos os dias. Do outro a mais pura fantasia, de um povo que se massacra, que se engana e se assalta dia a dia. De um lado a dor da fome e do “acaso” que lhe joga precipício abaixo mesmo sem querer. Do outro a dor e a angústia da mesquinharia e da futilidade narcisista, sem ou por querer.

E assim vamos andando sorrindo sem dentes ou com flúor de sobra. Uns em suas Bicicletas Barra fortes, outros em suas Land Rovers Discovers. No prato de alguns Ovo e Feijão, no prato de outros Caviar e Escargot - No prato de ambos o Pão e o Circo. No estomago e alma de todos, O NADA.