sexta-feira, novembro 24, 2006

Realidade Kafkiana.

Um sábado desses, como de costume, estava a caminho do curso para pegar a minha namorada. No ônibus tranqüilo, lia “O Processo” do Franz Kafka, e todo o seu existencialismo e angústia frente ao mundo moderno e a massificante burocratização da vida humana, urbana. Algo me chama a atenção lá fora, um homem agride uma mulher, que julgo ser sua esposa, pois ao lado um garotinho assustado assiste tudo, não devia ter mais que três anos. Fico perplexo, olho para os lados, na calçada, vários homens assistem tudo como se estivessem assistindo mais um capítulo da novela das oito. Logo ao lado, um caminhão de mudanças é descarregado por no mínimo quatro homens – e ninguém faz nada.

O “homem” puxa os cabelos da esposa e em seguida lhe dá uma forte gravata. Eu me desespero, lembro que no ônibus, haviam dois policiais. Chamo as suas atenções e lhes aviso do ocorrido, já imaginando o ato heróico destes destemidos guardiões do povo. Os imagino gritando “Abre a porta aí motô” e logo em seguida correndo para salvar a pobre moça indefesa. Triste engano o meu, pois um dos policiais só dá uma olhadela por cima da janela, para logo em seguida balbuciar alguma coisa ininteligível, e só. Uma mulher sentada na frente dos policiais grita: “Que covardia, chamem a polícia”, e eu penso: “Seria cômico se não fosse trágico”.

Parecia que eu havia me transportado para um mundo Kafkiano, aonde nada funciona, e o individualismo e a indiferença falam a língua dos anjos. Sem querer parecer sexista ou machista (coisa essa que condeno), bons tempos eram aqueles em que os cavalheiros salvavam as damas das mãos dos malfeitores, para ganhar um beijo ao final, com direito a um pezinho levantado e tudo o mais. Mas, não estamos num conto de fadas que tem um final feliz. Essa história é uma história Kafkiana, não temos heróis, ou pelo menos não temos finais felizes. O mocinho sempre morre no final, esquecido, afundado na mais profunda merda, lentidão e descaso do sistema. Nesse livro o mocinho não usa gel, não casa, não tem quatro filhos e um cachorro, e nem mora em uma bela casa branca com cerca e um grande jardim florido. Nesse livro a verdade é outra, pois as cercas são as cercas da prisão, do estado, do medo e o seu cão, esse é um Vira-Latas pulguento chamado Xôla.

Vejo que poucos policiais fazem o que fazem por que gostam. Talvez aqueles que quando crianças imaginavam revólveres com qualquer graveto ou objeto, e passavam tardes inteiras brincando de polícia e ladrão. Mas o que me parece, é que muitos têm um sério problema de conduta e respeito – esses tem os dedos nervosos prontos para dar um tiro no primeiro dentista negro que dirija um belo carro, por confundi-lo com um bandido. Muitos, não fazem diferença entre o valor da vida e do respeito, e só querem uma desculpa para descontar suas frustrações e angústias. Por que eles iriam se incomodar? Tratava-se de um casal de baixa renda, desses que vão à praia aos sábados e domingos e passam a tarde escutando brega e enchendo a cara de cachaça. Não são gentes para o estado, são um estorvo para a elite, e muitos policias levam essa mentalidade tacanha para a vida, mesmo estes não fazendo parte dessa facção criminosa, elitista e demagoga.

Enfim, o ônibus começa a andar – minhas esperanças já haviam se esvaído por completo - quando percebo outros dois policiais na rua, correndo em direção ao casal, prontos para por um fim naquilo. O ônibus se distância, fico um pouco mais tranqüilo, mas meu semblante é de ódio, ódio por aqueles policiais omissos. Tento voltar a ler – já não consigo mais. Pois já estamos num mundo ora Kafka, ora Dom Quixote. Que sorte aqueles policiais com armas de gravetos, terem aparecido pra salvar a donzela dos braços do grande dragão de pedras. Mesmo assim meu semblante não muda, pois sei que no final, nem o Gregor Samsa e nem o Josef K saem ilesos, pois é assim no mundo de Kafka, e é assim no mundo real.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Sodoma e Roma, qual a diferença?


Sempre foi assim...
A juventude doente por causa de velhos doentes...
Doença da alma, do ranço de dias que nem lembramos mais.
É social, é tão normal, você não é normal?
Que droga penso eu...
A normalidade social dos falsos moralistas
Perdeu a graça, nunca teve razão
Critica aqui, faz igual ali...
É tão lícita quanto nossa corrupção.
Criminosos com ternos de executivos...
Compraram seu lugar no céu pagando à vista.
Afinal qual a diferença?
Sodoma e Roma, qual a diferença afinal?

A ética e a justiça, o tapete escondendo o lamaçal
O grande e amargo sorriso do ser normal

E o clero condena à fogueira todos os pecadores
Às chamas com as Bruxas que eles ajudaram a criar
Deus todo poderoso quer ver as chamas chegarem aos céus
De todas as ovelhas que perderam-se do rebanho ao fraquejar
E em casa todas as famílias salvas assistem aos canais de televisão
Passarem propagandas de Sodoma e Roma, da lama da Cevada à Política...
O Lamaçal travestido em cores, falsas promessas e sorrisos amarelos
O ciclo da normalidade, do câncer social, e do circo sem risos...

segunda-feira, novembro 06, 2006

O três Mosqueteiros: A direita a esquerda e o voto nulo.


No mês passado ocorreu mais uma eleição para Presidente, Senadores e Deputados. Nos vimos novamente envoltos em uma atmosfera política esquecendo, por um breve momento até do Futebol. Mais uma vez o TSE fez seu dever de casa, divulgando de forma cansativa o jargão: Vota Brasil, Vota! E inertes olhamos tudo, de peito inflado repetíamos robotizados: “Temos que exercer o nosso direito de cidadão, nós temos que votar...” E com um sorriso amarelo nos lábios fomos lá, no colégio eleitoral especificado, exercer a nossa democracia.

A campanha Presidencial em especial, fora marcada por inúmeras acusações ao então Presidente Luis Inácio Lula da Silva, e principalmente ao seu Partido, o PT, envolvido em vários escândalos de corrupção. O que os Tucanos alegavam era que Lula teria o “rabo preso”, ou então teria feito “vista grossa” à roubalheira exacerbada no seu governo. Por outro lado, tinham como principal oponente o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que na levada da Maré Tucana, continuava batendo na mesma tecla das acusações, quando hoje, queria que o povo esquecesse e muitos até esqueceram o histórico de roubalheiras e de “cambalachos” promovido pela “ala” um pouco mais conservadora do quadro político brasileiro, a chamada direita.

Em meio a esse “maniqueísmo” ainda haviam aqueles que tinham no voto nulo, uma forma de exprimir seu protesto ao atual (ou eterno) quadro Político desta república de bananas (ou seria de pizzas?). Pelo menos, até o começo deste ano eleitoral, se mais de 50% dos votos fossem nulos, a eleição SIM, teria de ser anulada e remarcada. Mas como numa Ditadura, um Regime totalitário, o TSE, como bom “aluno”, fez seu dever de casa muito bem e anulou o efeito de nulidade de uma eleição, cerceando assim o direito de liberdade de escolha individual ou coletiva do povo. Josef Stalin, Mao Tse Tung, Hitler, Mussolini, Fidel Castro, Médice ou Geisel, Ditadores destros ou canhotos, se encheriam de orgulho com um ato desses. Ratifico “maniqueísmo”, pois a terceira linha ideológica, a do voto nulo, por ser totalmente marginalizada e ter seus direitos amputados pela lei vigente, acaba por não entrar na mente do “bom cidadão”, aquele que em meio a um tremendo ufanismo, acha que o Brasil é um País altamente democrático, e que o voto “obrigatório” seria a máxima dessa Democracia.

A eleição fora para o segundo turno, de um lado o Lula, do outro Alckmin. O retrato de dois Brasis. Um o Brasil representado por um homem do povo, migrante nordestino, proletário e amputado. O outro representado por um homem da classe média, com ótimo estudo, filho de um ex Vice-Presidente do AI-5. De um lado, o povo que acreditava piamente em Lula, e como Marilena Chauí se negava a ler notícias a fim de não manchar sua visão Romântica do PT. Do outro, o povo que cego pela ignorância e incentivado pela Revista Veja e Pseudo-Filósofos como Olavo de Carvalho - esse, defensor da Ditadura - acreditava que elegendo Alckmin, algo como uma cópia Chinesa de Fernando Henrique, mudaria alguma coisa, esquecendo assim as décadas que no poder, os Tucanos governaram para a elite.

Na verdade, infelizmente ressaltamos que, com Lula ou com Alckmin no poder, com a “esquerda” ou a “direita” as coisas mudariam muito pouco. Sem querer parecer ambidestro ou totalmente amputado, a política no Brasil está totalmente infectada por um ranço cultural tão grande que se reflete na nossa atitude de cidadão padrão. Ficamos então a espera de um “Messias”, que utopicamente, cuspiria as faces dos falsos salvadores, para que depois morresse na cruz tornando-se mártir, e quem sabe assim, poderíamos lucrar um dinheiro extra com algumas camisetas que estampassem o seu rosto, no melhor estilo “Malandragem Brasileira”.

OBS: Desde já, adianto que a repetição de assuntos e trechos de outras crônicas, se deve a essa crônica em especial ter sido feita para fins de trabalho da disciplina Português III na faculdade.

quarta-feira, novembro 01, 2006

No Way to the Human´s.


Hoje de manhã estava me lembrando de um fato ocorrido há alguns anos atrás em algum lugar perdido nos Grotões desse Brasil. Um operador de Máquinas que mesmo recebendo ordem da Prefeitura de sua cidade para que derrubasse com seu Trator algumas casas construídas de forma ilegal (invasão), esse homem vendo o desespero dos moradores negou-se a proceder com tal ordem e com lágrimas nos olhos preferiu ser levado à prisão a ter que destruir o sonho das pessoas envolvidas. São casos como esse que em meio a tanta sujeira, violência, demagogia e malandragem, me fazem voltar a crer nos (ir)racionais seres-humanos. Só que em meio à euforia dessa notícia, num bloco após vemos todo o Darwinismo assassino e porco que os seres humanos carregam dentro de si, numa série de notícias que mostram o lado mais estúpido que só o Humano tem: Guerras, Corrupção, Assassinatos, Estupros, Racismo, Intolerância Religiosa, Homo-fobia... E toda a visão Romântica que por um instante começava a ter do “Homem” se esvai assim tão de repente. Cada vez mais, me convenço de que não necessitamos de uma “revolução” econômica, mas sim de uma revolução pessoal – eu, você, ele, ela – cada um tentando despir-se de todo o preconceito que sabe que tem, e tentando achar os que nem imaginamos ter, e parafraseando esse texto jogo um trecho de uma música do Dead Fish: “...O Homem nu subiu ao palco e fez o que você não quis / O homem nu não te tocou, mas você se sentiu invadido / Ele pode te ver, mas você não / O Homem nu rasgou a Bíblia mesmo não tendo Religião / Você é livre, você é bom, dispa-se e me ignore”.

Enfim, dispa-se de seus valores e preconceitos, tire suas máscaras e seja você mesmo.