sexta-feira, janeiro 19, 2007

Quando passamos a enxergar além das frestas do caixão de nossos dias.



É verdade, eu nunca pensei que meu estado de revolta pudesse chegar a um estágio tão avançado. E nem foi tão difícil assim. Quando olho ao redor, quando ando nas ruas, vejo TV, ouço rádio – é na verdade eu nem ouço rádio, mas tudo bem. Sabe, quando se chega nesse nível tudo é tão transparente como as águas do caribe ou da privada. Da água pro vinho, ou seria do leite para a cachaça? Não importa, pois o que vale no final é conseguir enxergar além dessa névoa que insiste em pairar no ar, sobre nossas cabeças ou sob nossas vistas. Pode ter certeza meu caro, que o poder da grana está impregnado no mais simples detalhe, do barroco ao clássico, do renascentista ao moderno, da insígnia do capitão da polícia ao número de série raspado da arma que o traficante leva na cintura. Da hóstia do padre à coroa do papa. Da faixa do presidente às contas numeradas em bancos da suíça com dinheiros desviados. Do sorriso irritante de um deputado à idade exata de uma prostituta infantil em sua cama de motel. Em cada canto, lá estará ela, corrompendo, manipulando, estuprando e assassinando.

Você assiste a TV e de repente tudo é falso, impregnado de moral, regras, normas e condutas, que castram, te privam, te prendem, sempre com um propósito. O seu trabalho é uma droga, e de repente você percebe o quão é explorado, humilhado, manipulado. O estado passa a ser um maldito Talk Show idiota apresentado pelo mais completo desgraçado com rosto plastificado e maquiado da TV, sorriso medonho e dentes fluorescentes com aparelhos de néon. Os religiosos te condenam ao inferno quando deveriam ajudar – a África definha em Aids e fome enquanto o Vaticano se afoga em dinheiro e condena o uso da camisinha quando não tem a menor capacidade de condenar seus padres pedófilos. O novo salvador surge e é tão mentiroso que o cheiro de naftalina e formol e um pouco de cal em seus cabelos condenam seu verdadeiro caráter. Sabe meu velho, é justamente aí que conseguimos abrir os olhos, mesmo com tanta terra e desentupidor de pia jorrando em nossas íris. Aí irmão, aí não tem pra mais ninguém – pois quando chegamos nesse estágio, os elos das correntes do autismo imposto se quebram, e a fúria que carregamos dentro de nós é tão destruidora como o desabrochar de uma flor na primavera parisiense de 68.

As bombas são jogadas ao vento, entre molotovs e carros tanque, você sabe que ali é o seu lugar. De frente ao batalhão de choque, a gestapo contemporânea, você os enfrenta com estilingues e punhos cerrados, máscara negra no rosto e coração pulsante. Pelos oprimidos e contra os opressores, inquisitores modernos da nova igreja quadrangular do liberalismo transcendental. Você se joga à sorte e a sorte se joga contra você. O medo lhe arrepia os poros, mas já sabes que é tudo ou nada meu chapa. A liberdade ou a prisão maquiada? A Matrix existe, e sinto lhe dizer meu caro que tu vives nela. Que pílula então tu escolherás? A azul, a vermelha ou a negra? Não importa, pois tu tens uma pílula dentro de ti - enxergue-a! E esta meu amigo, não precisa de cor ou dogma, apenas de vontade de viver, de lutar, de amar, de ser livre e de ser feliz.

Um comentário:

Cássio Augusto disse...

C*... que texto forte!!! parabéns!!!