quinta-feira, dezembro 28, 2006

Realidade meio concretista


O sol massacra escaldante, entorpece a razão, e nas calçadas destruídas, tão reais – irracionais, os camelôs erguem suas esperanças sob a ganância dos royalits e acima da pirataria new-school das grandes corporações capitalistas – pirataria digital – tão racional, é a lei – a lei do cão, da Sub-Vivência, abaixo da lama, underground luminescência da alma, de um velho encanador em sua bicicleta velha a gritar, já sem voz “encanador, encanador”, e ninguém percebe a sua dor – engana a dor... nos enganamos todos os dias, riso morto, alma fosca, apatia, cores, tv, caixa de pandora, néctar da vida, que arranca o último suspiro da boca, do pulmão negro, de um velho preto velho, de uma pobre comunidade quilombola, que gosta de bola, de assistir mas não de jogar – não sabe ler, escrever e nem em quem votar, talvez o que voltar a lhe dar uma dentadura ou uma telha nova, para não mais pingar gotas de realidade no seu lar, nos seus filhos, netos, chão, coração.

7 comentários:

Anônimo disse...

Grande Rodrigo,
Rapaz, muito bom esse teu texto, meu velho. Parabéns!

Anônimo disse...

Rapá, começo a desconfiar da sua identidade! Blissett está se usando o pseudônimo do Rodrigo; e isso é bom. Cara, a cada dia seus textos tem me incentivado a escrever. Desfiz o blog, mas vou refazê-lo com calma. Depois te mando o endereço.

Afinal, irá me add no msn ou não?
nietzschespirito@hotmail.com

Telmo Clementino

Rodrigo Barradas disse...

Poxa Telmo, é que eu nunca entro no MSN! Mas claro que vou sim. Quando entrar pra gente poder bater um bom papo! Espero que leias isso aqui. hehehe

Abraços meu velho! E Muito Obrigado!

Anônimo disse...

Sóó, pelo que vê, li sim!
Espero lá, então!
E tentando me organizar para refazer o blog; lendo O PROCESSO, do Kafka e Libertinagem, do Manuel Bandeira.

abrá, velho!

TLBC

Tainá disse...

o sol massacra.
os massacrados sofrem de tão forte luz a carregar day by day.
e são carregados.

[isso foi fantástico:]
underground luminescência da alma.

Anônimo disse...

FLORESTA DE ESPELHOS


Quase nu. O corpo era um fardo. Todo pecado do mundo caíra sobre si. Não tinha direito a um telefonema sequer. O preço. Sentou e pensou – como conseguirá pensar a essa altura?
Caminhou o mais longe que pode. Dois passos. Arquitetou um plano de fuga. A melhor maneira de sobreviver era essa. Como dizia o Julgamento de loucos, de um escritor em pleno declínio: “as grades nos trazem desejos”.
Quando a liberdade será útil (?) [se é que isso que idealizamos tanto significa libertar-se]. Eis o fel. Gosto amargo. O pecado original ganhou uma nova forma. A macieira só dá frutos podres.
Despiu-se. Culpado. Não havia mais noção de certo e errado. A fumaça lembrava o mês de dezembro [dezembro era metáfora de fim]. Quando iam os crentes falar de Deus se comportava como um arrependido. Deus ali não entrava, nem o outro. Preferiam ficar livres jogando xadrez.
José, Severina, Heloísa ex-funcionários públicos; Renato, Henrique aposentados; Roberto, João ex-tudantes. Outros tantos. Diferiam-se apenas pela cútis, todavia, juntos, compunham uma imensa floresta de espelhos.
E o novato aí, quem é? Primeiro era feita uma investigação, dependendo do delito estava perdoado. Malandro não pode dar mole.
O crime foi... acreditar. Ter fé em um velho barbudo. Sujeito feito igual a você crendo em velho barbudo. Não ler a Bíblia? Maldito o homem que confia no homem, mané.
O velho que se referia devia ser o tal operário que subiu ao poder. Fazia promessa que todos teriam vida digna. Basta, agora, questionar o que é dignidade.
Esses assuntos são relativos, companheiro, mas na vida a gente aprende [mais se vira do que aprende]. Feliz foi Drummond que nasceu gauche.
E assim é mais um dia; carceragem, rua, periferia, esperança morta e [a ordem já não importa]. Brasil cão.

Contra todas as misérias, vote nulo!

Rodrigo Barradas disse...

Caralho! Que foda esse texte Telmo!

Extraordinário!