O sol massacra escaldante, entorpece a razão, e nas calçadas destruídas, tão reais – irracionais, os camelôs erguem suas esperanças sob a ganância dos royalits e acima da pirataria new-school das grandes corporações capitalistas – pirataria digital – tão racional, é a lei – a lei do cão, da Sub-Vivência, abaixo da lama, underground luminescência da alma, de um velho encanador em sua bicicleta velha a gritar, já sem voz “encanador, encanador”, e ninguém percebe a sua dor – engana a dor... nos enganamos todos os dias, riso morto, alma fosca, apatia, cores, tv, caixa de pandora, néctar da vida, que arranca o último suspiro da boca, do pulmão negro, de um velho preto velho, de uma pobre comunidade quilombola, que gosta de bola, de assistir mas não de jogar – não sabe ler, escrever e nem em quem votar, talvez o que voltar a lhe dar uma dentadura ou uma telha nova, para não mais pingar gotas de realidade no seu lar, nos seus filhos, netos, chão, coração.
quinta-feira, dezembro 28, 2006
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Sobre Luther Blissett
Como ando meio sem tempo de postar alguma crônica minha, colocarei textos sobre o Luther Blissett retirados do Wikipédia mesmo. Aliás, considero hoje, indispensável conhecermos a história do Luther Blissett, pseudônimo de várias e várias pessoas. Eu sou Luther Blissett, você é Luther Blissett, nós somos Luther Blissett. (Luther Blissett Project)
Segue na íntegra:
Luther Blissett é um pseudônimo multi-usuário, uma identidade em aberto, adotada e compartilhada por centenas de hackers, activistas e operadores culturais em vários países, desde o verão (no hemisfério norte) de 1994[1]. Na Itália, no período 1994-1999, o chamado Luther Blissett Project (mais organizado no seio da comunidade aberta que utiliza o pseudônimo), adquire notoriedade tornando-se uma lenda, uma espécie de herói popular, um Robin Hood da era da informação que organiza zombarias, passa notícias falsas aos mídia, coordena heterodoxas campanhas de solidariedade a vítimas da repressão.
Origem do nome:
O nome Luther Blissett[2] foi inspirado em um atacante futebolista inglês negro, de origem jamaicana jogou no pequeno clube de Watford durante a década de 70 até a 90. Contratado pelo Milan da Itália, foi considerado uma das piores atuações de um jogador no clube, portanto devolvido ao clube de Watford onde é o maior artilheiro do time. Sobre o fato de ser o inspirador da contra-cultura do Luther Blissett Project na Itália e no mundo, se recusa a falar sobre o assunto, o verdadeiro motivo pelo qual foi escolhido o nome de Luther Blissett para a nomeação do projeto.
Notícias falsas:
As notícias falsas fabricadas por Luther Blissett são uma forma de ridicularização e humilhação da mídia de massa, ou comumente chamada grande mídia. Por exemplo:
Em 1994, Luther Blissett simulou em Bolonha uma fase de "Horrorismo", como denominado pela mídia local, animais destroçados foram encontrados nos parques e praças da cidade e em centros de religiosos de Bolonha. A "população" começou a enviar centenas de cartas aos jornais e TV da região relatando o acontecimento e diversas notícias foram ao ar, crônicas de psicólogos e sociôlogos em várias páginas de jornais, o acontecimento somente foi desmentido depois de uma carta de Luther Blissett, que nada daquilo havia acontecido, o único "horrorismo" daquela história era o sensacionalismo a mídia.
Em 1995, o programa de TV "Quem o Viu?" recebeu o comunicado de uma rádio de Bolonha que do desaparecimento do artista inglês Harry Kipper, informado pelo grupo inglês chamado "Amigos de Kipper" dizendo que seu amigo havia sumido durante uma viagem de bicicleta no norte da Itália, o programa foi a Londres entrevistar os Amigos de Kipper e gravar lugares onde o artista costumava passar e foi também em algumas cidades que Kipper havia passado como Bolonha e Udine. O programa prestes a ir ao ar foi informado pela polícia inglesa que era um desaparecimento falso, não havia registro de Harry Kipper na Inglaterra e nem outro lugar. Dias depois a história foi contada para todos os jornais da Itália com os créditos para o tríplice grupo chamado Luther Blissett.
Em 1996, alguma pessoa da internet auto-intitulada Luther Blissett é contactada por Guiseppe Genna da editora italiana Mondadori a fim de organizar um livro de Blissett com uma coletânea de textos, depois de várias conversas, LB envia para Giuseppe seus textos para a publicação, mas com um pequeno porêm, textos esses que eram de redações escolares, textos totalmente sem nexo retirados da internet e re-organizados mais sem sentido ainda sobre tecnologias, entrevistas e assim por diante. O livro é lançado com o nome net.gener@tion organizado por Giuseppe Genna. Depois de publicado, uma nota nos jornais foi colocada mostrando a verdadeira história sobre o livro, seus textos delirantes e mentirosos.
Totó, Peppino e a Guerrilha psíquica:
O livro Totó, Peppino e a Guerrilha psíquica é uma coletânea de escritos de Blissett publicada pela editora Einaudi em 2000. O nome teve origem nos programas da dupla Totó e Peppino comediantes italianos da década de 50, eram comédias bizarras, com qualidade de produção péssima, devido a pouca tecnologia na época. Um dos programas chamado Totó, Peppino e i fuorilengge reflete situações de simulação, falsificação, disfarce e fraude.
Q, o caçador de hereges:
O romance Q é redigido no triênio 1996-98 por quatro membros do grupo bolonhês do LBP (Luther Blissett Project), sendo publicado pela editora Einaudi em março de 1999. Nos anos seguintes é traduzido para o inglês, espanhol, alemão, holandês, francês, português (do Brasil), dinamarquês e grego.
Os quatro autores do Q, o Caçador de Hereges saem a céu aberto em 6 de março de 1999 com uma entrevista para o diário La Repubblica. Apesar do título sensacionalista, nas respostas não se reduz de maneira alguma a complexidade do fenômeno Luther Blissett nem, muito menos, se renuncia às práticas anteriormente adotadas. "Os nossos nomes têm importância mínima e a das nossas histórias individuais é ínfima. Somos a equipa que escreveu Q, mas não chegamos a constituir o 0,04% do Luther Blissett Project". Além da complexidade da trama e do seu valor alegórico, o livro desperta interesse também pelo fato de ter sido publicado em uma espécie de fórmula copyleft. Surpreendem-se os que ignoram que a crítica prática da propriedade intelectual é uma pedra angular do LBP.
Em dezembro de 1999 termina o Plano Quinquenal do LBP. Todos os veteranos (os que utilizam o nome desde 1994) perpetram um suicídio simbólico, denominado Seppuku (suicídio ritual japonês). O encerramento do LBP não implica de forma alguma no fim do pseudônimo, que continuará a ser adotado por muitas pessoas em vários países.
Em janeiro de 2000, uma quinta pessoa alia-se aos autores do Q e nasce uma nova banda de narradores, Wu Ming ("anônimo" em chinês mandarim). O livro Q tem passagens que é muito lembrada pela escrita de Umberto Eco, rumores dizem que o livro Q também teve a mão a do escritor, mas nada realmente concreto[3].
"Quantos Zé ninguém e Luther Blissett existem espalhados pelo mundo? Se nosso vizinho de casa desaparece, saberemos "tudo" pela televisão, sem nem a necessidade de olhar pela janela. A mídia de massa nos oferece a medida da nossa existência. Muitos vivem para aparecer, mas somente poucos aparecem para viver. Luther Blissett apareceu desaparecendo. Pode desaparecer uma pessoa que não existe? Principalmente se seu nome for apenas o pseudônimo do suposto ilusionista Harry Kipper, misteriosamente desaparecido? Ser e não aparecer, e quem resolve aparecer atrás de um nome coletivo faz isso para desarrumar as regras do jogo. Se na mídia aparece o rosto de Luther Blissett, este é com certeza mais um falso, pois LB possui rostos demais para ser representado somente por um. Mas acima de tudo porque, se está presente na mídia, então desaparece como LB, isto é, prefere-se a aparência à existência."
(Luther Blissett)
domingo, dezembro 10, 2006
Ranços e Ideais (Conto)
Descia a rua do Hospício cruzamento com a Avenida Conde da Boa Vista.
Um calor infernal, fedor, odor, sujeira, caos e vida.
A calçada destruída como as vidas dos transeuntes...
Sim, eu podia ver em seus olhos, suas almas apedrejadas pela frustração, pela dor e pelo ranço.
Na boca desdentada, um sorriso amarelo...
Na alma, um vazio eterno...
Faltava apenas um quarteirão até a parada de ônibus...
E eu podia optar por duas linhas:
Setúbal Conde da Boa Vista, ou Massangana/Boa Vista... Na verdade não estava preocupado.
Eu estava até adiantado... Só pego no batente as nove da manhã...Ainda eram oito horas.
Mais ou menos na metade do quarteirão vi algo que me deixou apreensivo.
Um Homem extremamente mal-trapilho, sujo, feio, fétido e mal encarado.
Olhou-me nos olhos...
Senti o medo percorrer-me a espinha arrepiando cada poro do meu corpo.
A sua mão lentamente desce em direção à cintura...
Levanta um pouco a camisa... Algo reluz...
Nessa hora vejo-me suando frio...
Era uma arma! Um revólver 38, cromado, cano longo.
O Homem saca a arma rápido, e a aponta na direção da minha cabeça.
Posso ver no tambor do revólver as seis balas, dentro de cada um dos compartimentos.
Sinto-me sufocado...
O ar não passa, fico um pouco tonto, e das minhas mãos pingam gotas de suor. Maldita “Distonia”.
O Homem fala algo que não entendo...
Repete...
Agora entendo, ele anuncia o assalto.
Pede minha carteira...
Por um momento eu hesito.
Ele ameaça matar-me.
Tremo nas bases...
Noto o evidente nervosismo do Ladrão.
Entrego-lhe a carteira de prontidão...
Ele a abre...
Cinco Reais, documentos, e comprovantes de algumas compras que tinha feito.
De fato, percebi logo que a coisa iria ficar realmente "preta".
O Mal-trapilho ladrão jogou a minha carteira com muita força ao chão.
Com a outra mão, empurrou-me na altura do peito, fazendo-me sentir uma forte dor nas costelas, na base da caixa torácica.
Recuo um pouco...
O Ladrão não fala mais nada...
Volta a apontar-me, a arma...
Agora entendo...
Vou morrer... Vou morrer!
Um segundo vira uma eternidade...
Seu dedo lentamente pressionando o gatilho para dentro.
Um enorme barulho se precipita na altura do cano.
Meus olhos podem muito rapidamente captar o fogo saindo do revólver.
Algo me atinge a cabeça...
Atingiu-me na altura da testa, não sinto dor, confesso...
Só sinto algo me entorpecer a mente.
Aos poucos sinto meu corpo desfalecer.
A visão escurece...
Então eu morro.
Mais uma vítima da violência!
Mais um na estatística!
Então volto à realidade...
O Homem ainda vem em minha direção, e percebo-me o olhando com medo.
Existe uma barreira invisível entre nós.
Uma barreira que, segrega-o e ele sabe disso!
O Homem fita-me os olhos...
De fato, não pude dentro de meu egocentrismo, travestido numa Pseudo-Mente esclarecida, entender o que se passava na cabeça daquele Homem naquela hora.
O vejo distanciar-se e perder-se na multidão...
Apenas um anônimo...
Quando não põe medo, apenas um fantasma.
Ninguém o nota...
Continuo a andar...
Vejo meu reflexo na vitrine de uma loja.
Encaro-me...
Sim, existia alguém armado naquele dia...
E esse alguém era eu!
Armado de um pré-conceito que nem eu sabia que tinha...
Logo eu que era tão esclarecido...
Fitei-me mais uma vez através do reflexo.
Senti vergonha de mim mesmo.Ajoelhei-me e chorei.
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